Regras da Comida, de Michael Pollan — como escapar do labirinto nutricional
Resenha de livro
Você já parou para pensar em como é complicado comer hoje em dia? Médicos, gurus de dieta, manchetes sobre “o nutriente do momento”, pirâmides alimentares, embalagens lotadas de informações... parece que precisamos de um manual técnico para montar um prato. É justamente essa confusão que Michael Pollan aborda em Regras da Comida.
Segundo o autor, a ciência da nutrição ainda engatinha — tem menos de 200 anos — e talvez esteja no mesmo estágio em que a cirurgia estava em 1650: promissora, mas ainda pouco confiável para guiar completamente nossas escolhas. No vácuo dessa incerteza, cresceu um verdadeiro complexo industrial da alimentação, que lucra tanto com os ultraprocessados quanto com as doenças que eles ajudam a causar.
O problema da “dieta ocidental”
Pollan simplifica a questão em três fatos:
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Dieta ocidental → doenças modernas. Obesidade, diabetes tipo 2, problemas cardíacos e até câncer estão ligados ao excesso de industrializados, carnes, açúcares e farinhas refinadas.
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Dietas tradicionais → resiliência. Povos que mantêm suas formas de comer, mesmo que sejam super diferentes entre si (mais gordurosas, mais ricas em carboidratos ou proteínas), não sofrem desses mesmos males.
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Reversão é possível. Abandonar, mesmo que em parte, a dieta ocidental já traz ganhos enormes para a saúde.
Traduzindo: o problema não é gordura vs. carboidrato, mas processamento e artificialidade.
A regra de ouro
Depois de muita pesquisa, Pollan chegou a uma resposta simples para a pergunta “O que devemos comer?”:
Coma comida. Não em excesso. Principalmente vegetais.
Parece óbvio, mas nesse mantra cabe toda uma filosofia:
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“Coma comida” → o que sua avó reconheceria como alimento, e não uma substância industrial com nomes impronunciáveis.
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“Não em excesso” → pare de comer quando estiver 80% satisfeito, use pratos menores, coma devagar.
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“Principalmente vegetais” → frutas, verduras, grãos integrais. Carne? Pode, mas como coadjuvante, não protagonista.
Regras práticas para o dia a dia
O livro está cheio de dicas que parecem bobas, mas fazem diferença:
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Evite produtos com mais de cinco ingredientes.
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Compre nas bordas do supermercado, não nos corredores centrais.
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Cozinhe sempre que puder — é a melhor forma de saber o que está no seu prato.
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Prefira comidas coloridas: cada cor traz nutrientes diferentes.
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Açúcar é açúcar, seja orgânico, de cana ou xarope de milho.
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Beba refrigerantes e sucos industrializados o mínimo possível.
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Use a sabedoria popular: “quanto mais branco o pão, mais depressa você vai para o caixão”.
O charme do livro
O ponto alto de Regras da Comida é a clareza. Pollan foge das dietas da moda e devolve ao leitor algo que parece perdido: bom senso. Ao invés de contar calorias ou caçar o vilão nutricional do momento, ele mostra que é possível ter uma vida mais saudável com escolhas simples, conscientes e culturais.
Vale a pena ler?
Definitivamente. Este não é um guia clínico para casos específicos, mas uma bússola prática para quem quer sair do ciclo de confusão alimentar. É um livro que simplifica sem simplificar demais, nos lembrando de que comer bem é mais sobre cultura, ritual e atenção do que sobre números na tabela nutricional.
No fim, Pollan nos convida a algo mais profundo que uma dieta: a recuperar uma ética da alimentação. Comida de verdade, na medida certa, com vegetais no centro. Parece simples — e é justamente por isso que funciona.





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